O Prazer do Entrave

Como um entrave pode ser tão belo

Tão saboroso em seu gastar em dor

Por que gostamos tanto dum trabelho

Que tranca a porta dos caminhos vários

Por que não temos vergonha dum embaraço

Que nos expõe sem dar a conhecer o baço

E que nos embaça aos olhos mil da festa

Aí dançamos sós felizes e isolados

Se alguém nos pede a seguinte dança

Respondemos surdos só me conduz o mesmo par

É gostoso usar aquele mesmo cabresto

Que faz sorrir e olhar fixo e sempre vidrado

Pra que olhar em volta se é tão confortável

Sentir o gentil toque do velho esporão

Que o entrave usa com muito carinho

Sempre no nosso lombo, sempre do nosso lado