NÃO SOU AQUILO QUE ESCREVO

Não sou aquilo que escrevo

(Aleijadinho não era um santo)

Escrevo e vou saindo de mim

Em palavras

Tintas

Desço-me à pinceladas

Leves de vento

A fazerem escapar da ponta mais ponta

Minh'alma

Escorro sobre o papel

Sem pressa.

Sendo outro

Sou cinzel à mão

Entalho na busca do sangue

Silenciosamente

Metodicamente

Trabalho na madrugada

Indo da lama à alma

Neste dia que se aproxima

E quando raia o sol

De entalhes...

Nasce o vermelho

Donde explodem as cores todas

Com que se comemora o dia.

Outro tenho sido

Depois deste dia amanhecido

Meu personagem

Que levo rua afora

Com sua cara de ganhar pão

Sem poesia

Com sua cara cara

Malbaratada

Que vai sendo levada

Carranca

Do rio São Francisco

A desafiar

Maus presságios

Naufrágios...

No dia espelho

Faço-me às aguas.

DA MONTANHA
Enviado por DA MONTANHA em 01/10/2008
Reeditado em 01/10/2008
Código do texto: T1205379
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