NÃO SOU AQUILO QUE ESCREVO
Não sou aquilo que escrevo
(Aleijadinho não era um santo)
Escrevo e vou saindo de mim
Em palavras
Tintas
Desço-me à pinceladas
Leves de vento
A fazerem escapar da ponta mais ponta
Minh'alma
Escorro sobre o papel
Sem pressa.
Sendo outro
Sou cinzel à mão
Entalho na busca do sangue
Silenciosamente
Metodicamente
Trabalho na madrugada
Indo da lama à alma
Neste dia que se aproxima
E quando raia o sol
De entalhes...
Nasce o vermelho
Donde explodem as cores todas
Com que se comemora o dia.
Outro tenho sido
Depois deste dia amanhecido
Meu personagem
Que levo rua afora
Com sua cara de ganhar pão
Sem poesia
Com sua cara cara
Malbaratada
Que vai sendo levada
Carranca
Do rio São Francisco
A desafiar
Maus presságios
Naufrágios...
No dia espelho
Faço-me às aguas.