FUGA

FUGA (Zé Polinômio)

Não choro, não falo e não canto

A solidão ri de mim com gestos obscenos

As paredes me cercam (são quatro)

Estão armadas. (com concreto armado)

A fala não sai.

O choro não vem.

Nesta noite pretendo fugir pra São Luis;

Embora saiba que lá a poesia casou-se

E que o último poeta enforcou-se.

Mas, disseram-me que ainda resta o mar

E meu coração pintado de azulejos.

O choro que prometeu vir

Não veio.

E o riso? Nada. (no mar de São Luís)

E a solidão? Continua a debochar de mim.

O silencio é tão silencio

Que não me deixa falar do presente

Sei que apenas que existe.

É real como essa luz

E como essa dor que persiste

Fugirei ainda nesta noite

Espero subornar as paredes

E denunciar a solidão

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