Multidão

A minha essência já não me pertence mais,

Espalhou-se como a poeira no meio da ventania

Tem cacos de mim por todos os cantos,

É como ressalva de mim mesma em cada árvore,

nas terras que dão frutos,

em cada gota do oceano.

Tudo está em mim! Tudo me pertence e a tudo eu pertenço

O sangue daquele moleque morto foi lavado com minha dor.

A voz engasgada daquela (ex )curumim foi abafada com meu urro.

O desespero daquela mãe solitária, caída no chão, foi abrandado com minha esperança.

A consternação daquele velho usurpado pelo tempo foi abrandada pelas lembranças que lhe dei.

Em mim não há mais nada de meu,

Trago todas as angústias da humanidade num peito frágil e sofrido.

Trago todas alegrias da humanidade num peito forte e impaciente.

Inca – 16/03/08