João Guimarães Rosa, Ave!

Eu acho que por ter nome de flor

e a justa conta da justa dor,

foi que o Matuto Doutor

espalhou tanta cor

nesse Mundo de incerto autor.

E tanto sentir foi,

que vazou das Minas

e encheu o Brasil.

E tanto sentir foi,

que vazou do Brasil

qual água de vazado barril.

E tanto sentir era

que curto o vocabulário era.

E para tanto dizer

pôs-se, presto, palavras fazer.

E foi com elas que cantou

o ciúme de Salustiano;

a dor do boi no carro decano

(jungidos na vida, ano após ano).

E foi com elas que pariu

Diadorim e Riobaldo,

cujo "L" secou o rio e impediu o bardo.

Enquanto carregava a primeira, o duro fardo

de viver num corpo errado.

E é tal o tal Drº João,

que salta do papel

a Vereda do Grande Sertão.

Tal e qual a marra do peão

que escora o boi bravo como o Cão.

Boi que se rechaça

num depois de farinha e cachaça.

Toma carne e forma a mulher que cheira

saudade, amor e flor de laranjeira.

E tanto se caminha nessas letras

que se sabe que as noites não são pretas.

Sente-se a Lua Cheia,

a terra de "à meia"

e o bruto desejo que tudo incendeia.

E mais se vai, no lombo do Burro Pedrês.

Cruza-se o muro chinês

sem que se dispa o paletó xadrez.

Tanta viagens, Guimarães.

Dores, amores e quase carinhos de mães.

Tantos caminhos, Mestre, que só se pode pensar

em qual caneta "Vosmicê" foi viajar.