Do amor, a raiva.
Do amor, a raiva
De todo o amor que tenho
Sinto raiva
Raiva não de tê-lo
Mas de ser aquele, a mim
Mais justo.
A solidão é conseqüência
Conseqüência de qualquer amor
que seja verdadeiro
Pois os amores correspondidos
São medíocres
E os amantes
São doentios.
Minha raiva faz pulsar
Se sinto a vida
É porque ela está na solidão
E todas as felicidades
Não me competem.
Os amantes não sentem
O sangue não corre
Não percebem a morte
que se aproxima.
A morte é conseqüência
Daquilo que faz pulsar
E se morro
Um pouco mais a cada dia
É porque ainda existe
Alguma vida.
Escolhi a taquicardia
Definhar lentamente
E é nos braços do vazio
que me embalo
E só não sou melhor por isso
Porque ainda busco
Em outros braços
Algum consolo
Se não seria plena
Plena incompletude
E enfim humana
Por isso.