E A CHUVA CAÍA...

Brasília, 25/09/2008

E a chuva caía...

Naqueles pingos me vinha a lembrança

das lágrimas que derramei por ti.

A cada relâmpago, a luz me trazia de volta

à realidade tão cruel daquele instante

em que tu me disseste adeus.

As luzes da boite se apagaram

e lá ficamos nós, eu e a lúgubre amargura

de não te ter.

Mas não desisti do meu uísque,

e depois de tantas doses,

percebi que no reinado dionizíaco,

eu era o amigo do rei.

Já não eras, ó flor, a mais importante,

pois qualquer puta daquela hora

poderia te substituir, pois para o bêbado,

tão carente e só, qualquer carinho o soergue.

Os lábios avermelhados daquele baton

de quinta categoria, poderiam, pelo menos,

lembrar-me dos teus, pois que igualmente carnudos

e com a língua a umedecê-los,

num pêndulo e vai-e-vem,

me intimava a um desejo louco.

Não eras tu, ó mulher!

Que tão cuidadosamente havia escolhido

pra ser a minha rainha.

Talvez, por certo, eu é que não fosse

o teu favorito rei.

Mas, não tive medo,

e pelo menos tentei.

Entretanto, aquela que, pelo preço a pagar,

tentava me fazer esquecer de você,

não desistiu, e depois daquela noite,

em que nossos líquidos se misturaram,

como a água da chuva que caía e embebia o chão,

ela, a prostituta, para mim, se fez amor,

pois que bela e meiga,

o preço não me cobrou,

e nos meus braços adormeceu.

Com os seus olhos amendoados,

ao acordar, vem me flertar,

num doce olhar,

como a suplicar que te esquecesse,

e assim, quem sabe, a ela escolhesse

para, com calma e serenidade,

contemplar os pingos da chuva que caía.

Roberto Dourado
Enviado por Roberto Dourado em 25/09/2008
Reeditado em 28/09/2008
Código do texto: T1196614
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