PERDIDO PARAÍSO
À MEMÓRIA DE MÁRCIA F. P.
Eu vi o lírio brotar na campa
Daquela donzela formosa dormindo,
A lembrar-me que embaixo daquela tampa
Havia uma triste saudade sorrindo.
No cruel sadismo do tempo profano
Roubando, sem pena, seu doce alento,
A vida, ceifada no verdor dos anos,
Pendeu qual flor ao sabor do vento.
Eu a conheci e amei quando moço
E tinha a alma inda cheia de sonhos
E ela sonhava dias mais risonhos,
Agora, sepultos no fundo de um poço.
Ela partiu. Não volta nunca mais.
Que pena ! Aquela vida ainda tão nova,
Destruída na terra da rasa cova,
Me nega a presença que a dor me traz.
Assim enterrado no cemitério
Pareceu-me tão triste aquele riso:
Tinha um quê silencioso de mistério
E a solidão de um perdido paraíso.