PRAIA
FÉRIAS NA PRAIA ( Set 2008 )
Caminhei para a essência
despindo-me de camadas de palavras por dizer.
Escondi-as nos horizontes, depois das dunas,
muito além da raiva surda em gritos ocos
e da nudez sofrida dos silêncios.
Sepultei-as no vento, dispersas,
juntas com a areia
com que o tempo assina os seus rumos,
como numa imagem de uma incomparável moldura,
por entre palmeiras curvadas
ás vontades dum céu todo ele azul.
De tão espalhadas, não foram frases,
nem se ergueram em muralhas de ameias altas,
por entre as quais a verdade simples custa a assomar.
Não enfeitaram medos,
nem descoloriram a simplicidade
de que o inevitável se reveste,
enquanto dança aos nossos olhos cansados.
Não dançaram passos hesitantes,
nem prepararam explicações indesejadas.
Apenas não foram frases.
Talvez nem sequer palavras.
Apenas algo diferente, vago,
como silentes camadas de pele inexistente
numa cebola de alva nudez.
Espalhado, gastei-me até não ser.
E regressei sem mensagens.
Sem essa estranha necessidade
de que as palavras digam coisas,
apenas porque podem fazê-lo.