De poeta e louco ...
Metade de mim é alguém
Que pesa, apreça, pondera
Outra metade é ninguém
Leve, sem pressa, pudera!
Parte de mim é esteta
A la Ferreira Gullar*
A outra, porta concreta
Urge que eu vá trabalhar.
De perto, a parte ternura
Crê, treme, sonha, reluta
Ao longe, o lado bravura
Não teme, assanha, disputa.
Dentro de mim vive um ente
Que fala e sabe de Tudo
O seu vizinho, demente
Nada, surdo, cego, mudo.
À tona, largo remanso
Ao mundo, sofreguidão
Na lona, lanço e descanso
Fundo, dói a solidão...
Minha porção bissetriz
Reparte a arte, esquarteja
Faz sua parte, a infeliz
Descarta a alma, esbraveja.
A face poeta projeta
Panfleta sua arte bruta
A parte asceta é profeta
Aparte: sou anjo biruta.
* Traduzir-se in Na vertigem do dia