De poeta e louco ...

Metade de mim é alguém

Que pesa, apreça, pondera

Outra metade é ninguém

Leve, sem pressa, pudera!

Parte de mim é esteta

A la Ferreira Gullar*

A outra, porta concreta

Urge que eu vá trabalhar.

De perto, a parte ternura

Crê, treme, sonha, reluta

Ao longe, o lado bravura

Não teme, assanha, disputa.

Dentro de mim vive um ente

Que fala e sabe de Tudo

O seu vizinho, demente

Nada, surdo, cego, mudo.

À tona, largo remanso

Ao mundo, sofreguidão

Na lona, lanço e descanso

Fundo, dói a solidão...

Minha porção bissetriz

Reparte a arte, esquarteja

Faz sua parte, a infeliz

Descarta a alma, esbraveja.

A face poeta projeta

Panfleta sua arte bruta

A parte asceta é profeta

Aparte: sou anjo biruta.

* Traduzir-se in Na vertigem do dia

Maria Paula Alvim
Enviado por Maria Paula Alvim em 24/09/2008
Reeditado em 25/09/2008
Código do texto: T1194957
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