O XENÓFILO
Brasília, 24/09/2008.
Eu não sou como o xenófobo,
que procura ver nos outros
o defeito encravado no próprio ser.
A definhar-me em minha incompetência,
prefiro resolver-me comigo
no ponto de partida que sou eu mesmo.
Se não me engulo,
Tenho que me triturar,
quebrar-me todo, entrar no âmago
do osso e gelatinar-me, pois
assim serei mais degustável.
Mas para isso é preciso coragem
para se encarar a si próprio
e descobrir-se menor.
E pior: afirmar-se como tal,
nem que seja diante do espelho.
Espelho esse, às vezes, quebrado, pois não me suporto a mim mesmo.
- E são tantas coisas ruins que digo pra mim diante dele!
Pois é, diante desse espelho, sozinho, num banheiro frio,
onde a água do chuveiro não esquenta porque não troquei a resistência.
Mas que resistência tenho eu, diante do meu fracasso.
Por que existo?
Que significa essa pequenez diante da grandeza
que só vejo nos outros?
Eu não sou como o xenófobo!
Eu sei que quero ser como o xenófilo,
que respeita o diferente, o feio, a beleza dos outros
que me incomoda – por quê não eu?
O azedo dos outros, que talvez seja meu,
essas cores diversas, temperamentos diversos,
esses perversos versos, tão perversos – serei eu?
Eu quero ser como um xenófilo,
que aceitando os outros se aceita também,
e se aceitando, aceita os outros que vêm.
E assim se resolve,
e não precisa de revólver.