PÓLEN
O pólen que guardei na gaveta
Enrosou-se como minha unha
Como as lembranças dos desenhos nas cerâmicas
Lírios dançantes e misturantes
Diluindo-se e solidificando-se
Zombando dos olhares atentos
Fugindo das simetrias rígidas
As raízes que ouvi voando
Atearam fogo às próprias asas
Os sândalos que abrigaram meu útero
Iam e vinham
Como ruídos de zíperes
E dedos nas calculadoras
E vento nas folhas de livro
As pegadas que eu decorei nos sapatos
Seguiram-me até meus sonhos
Inconscientes reinaram
Dos fluidos
Das solas dos mesmos sapatos
E de magia
Nada restou
Do que guardei
E o que importa
Se os desejos um dia existiram
Se os sonhos um dia brilharam
Se as maças um dia sorriram
Eu guardei tudo
Junto com o pólen
Na minha gaveta