O MESMO PRANTO

«Esta noite não é distinta de há trinta anos:»

Celso Álvarez Cáccamo em «Esta última noite...»

Publicado no Portal Galego da Língua

Ter Set 23, 2008 1:42 am

Trinta anos são seis lustros

Seis vezes cinco. Cinco vezes seis

Menos do que aguardo viver. Mais do que posso esperar

Será aquela noite, dentro de trinta anos

seis vezes um lustro, cinco por seis, como esta de hoje?

Existirá o sonho atravessado na garganta, como diz

a nossa Carla, haverá o mesmo olhar as entranhas

haverá ainda coração?

Estarei aqui, como hoje, a debulhar dores incompreensíveis

vindas de não se sabe onde em ondas a me levarem

a não se sabe que lugar?

Será a mesma noite, a noite negra, negra noite galega

a que me trespassa hoje todos os nervos

serão iguais os turvos pensamentos

serão os momentos

dentro de trinta anos, seis lustros, cinco vezes seis

como se o tempo não tivesse passado

e este instante fosse reflexo simples

daquela noite como esta

e eu, perdida nela

escrevesse

o mesmo

pranto...?