Pertences...
...é como lança cravada no sol
que se derrama em incêndios,
como um parar de repente
das águas correntes do rio,
é como um vento pendurado
no sombrio de um parreiral...
...é como essa gargalhante tristeza,
que coloca gargalheiras a travar a voz,
que recolhe luz e destila tormentas,
como um entalhe que dorme num acordar,
e acorda num sonho entalhado em pedra fria...
Revela-se assim, esboço apenas dessa obra mais prima,
de qualquer poema, não é a rima,
é uma poesia sem o poeta,
é o espaço da cor da flor da primavera passada...
...é essa esperança tresloucada dos paralelos trilhos,
sonhando o encontro...logo ali...
é como o raso do profundo desse poço estendido,
esse jeito confuso e incontido do conter-se
nas tentativas insanas, ao riscar-se limites,
tentando não escorrer-se...
Ainda assim, é esse sentir incabido,
de um caminhar parado,
pairado por sobre um chão que passa...
Foi urgente essa leitura socorrista,
com os olhos baixados, mas não cerrados,
olhei para dentro, vislumbrei diversificados motivos,
escancarada no peito a identidade...
...descubro por fim...é a saudade,
indolentemente a rir-se de mim!