V E R D U G O S

Você me ilude

Acaricia meu ego

Mas não me convence

Não sou cego

Lá em casa

Num velho canto

Um velho espelho

Me diz a verdade:

- Velho !

Você está velho !

Discuto com ele,

às vezes retruco

mas ele insiste:

- Velho !

Você está velho !

Velho e carente !

Tento contestar:

-Não sou demente.

Sei que estou velho

E daí ?

Mas vivo

Sonho

Respiro

E você velho espelho ?

Imóvel

Nem imagem tem

Vive da imagem dos outros

Escancara as rugas

E as dobras alheias

Duro

Cruel

Pedaço de fel

Um dia te quebrarei em pedaços

Carrasco do tempo humano

Você, e as horas que passam

São os verdugos da felicidade

Tentam tirar de mim

A esperança

Tentam afastar a criança

Que ainda carrego

Seu velho malvado

Não sou cego !

Apago a luz

E você some...

Some...

Some...