Bicicleta mercantil
Não compro os pedais da lua
E para quê repartes o tacto pelas poltronas de plástico
Outubro é vivo
Nas gargantas dos pássaros
E os óculos de flanela
Mergulham-te nas vértebras
Não compro vontades arcaicas
Aspirinas de relva
O espanta espíritos é encarnado
E desmonta-se sobre os jardins de carvão
Tens contrabando na pele
E os calções azuis
Escondem cicatrizes de xisto
Tens os pulmões trepando melancias
Os automóveis voltam mortos
Arrefecendo as costas dos peixes
Não compro o ruge das calculadoras
Os glossários inventando mármores ciganos
Inclina-se a febre
Na catedral de corais
E as conchas rasgam os volantes da noite
Nunca reparaste na direcção das varandas
As casas são mortas
Quando lanço bicicletas mercantil à tua janela
Cláudia Borges
in Malmequeres os lábios molhados