Bicicleta mercantil

Não compro os pedais da lua

E para quê repartes o tacto pelas poltronas de plástico

Outubro é vivo

Nas gargantas dos pássaros

E os óculos de flanela

Mergulham-te nas vértebras

Não compro vontades arcaicas

Aspirinas de relva

O espanta espíritos é encarnado

E desmonta-se sobre os jardins de carvão

Tens contrabando na pele

E os calções azuis

Escondem cicatrizes de xisto

Tens os pulmões trepando melancias

Os automóveis voltam mortos

Arrefecendo as costas dos peixes

Não compro o ruge das calculadoras

Os glossários inventando mármores ciganos

Inclina-se a febre

Na catedral de corais

E as conchas rasgam os volantes da noite

Nunca reparaste na direcção das varandas

As casas são mortas

Quando lanço bicicletas mercantil à tua janela

Cláudia Borges

in Malmequeres os lábios molhados

Cláudia Borges
Enviado por Cláudia Borges em 21/09/2008
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