O azeite e o caroço

“Quem prova o sabor do azeite

aceite o caroço depois.”

(Reinaldo N. Luciano)

-----

“Quem prova o sabor do azeite

aceite, então, o caroço.”

-----

Quem quer viver na fartura

e se esbaldar no seu vício

entenda que todo início

é coisa linda, é ternura,

e depois vem a fatura,

a parte ruim, chumbo grosso,

uma carne de pescoço,

um bafafá... Mas aceite.

Quem prova o sabor do azeite

aceite, então, o caroço.

É coisa certa esse dito:

o que é bem bom dura pouco.

Acaba ficando louco

e sucumbe num conflito

exacerbado, esquisito

e sem sabor, pão sem leite

quem prova o sabor do azeite.

Aceite, então, o caroço.

A carne tem sempre um osso

a lhe servir como enfeite.

Quem só quer café com leite

e pensa em favos de mel

há de provar desse fel

bem antes que o sol se deite.

Quem prova o sabor do azeite

aceite, então, o caroço,

ou vai comer sempre insosso

o que com sal é melhor.

Ninguém come mocotó

se não quiser roer osso.

Se lá no fundo do poço

a água é doce, aproveite.

Quem prova o sabor do azeite

aceite, então, o caroço

e vá bem fundo. Esse esforço

é salutar, saiba disso.

É melhor ter compromisso

e no seu tempo cumprir

do que do mesmo fugir,

pois vai perder todo o viço.

Quem prova o sabor do azeite

aceite, então, o caroço

e não fique só no esboço.

Arrisque todo o deleite

e não se prenda ao enfeite.

O caroço é passageiro,

o seu destino é certeiro

e você logo se esquece.

Afinal, você merece

algo melhor, companheiro!