OS OLHOS DE MARIA

Com mão forte, segura firme a maçaneta,

E suspirando profundamente, abre a porta, enfim.

Com o rosto sério e pálido, ele então se aproxima,

Do leito onde jaz Maria.

Seus olhos, antes tão fortes e decididos,

Contemplam, agora aflitos, a morte feminina!

Pede a todos que dêem licença,

Com voz controlada à emoção.

Um a um, retiram-se, os presentes,

Deixando-o só, com o corpo da companheira,

Que por toda a vida dedicou-se inteira,

E que agora jaz naquele leito!

Aproxima-se ainda mais, o forte homem,

E por longo tempo fita os olhos dela, que ainda abertos,

Parecem hipnotizá-lo... Fica imóvel,

À beira daquele leito, onde por diversas vezes,

Sentiu o calor daquele corpo, que agora inerte,

Resume-se em lembranças do que já foi um dia...

Mas os olhos dela... Que olhar é esse?

Parecem fitá-lo resignadamente.

Ou seria reflexo do cansaço,

De quem já não podia mais lutar?

E suas mãos, agora entrelaçadas,

Sobre um peito sem ritmo, parado?

Das mãos, seu olhar volta aos olhos dela,

Que ainda abertos parecem querer falar

Através de um brilho estranho, inexplicável.

E ele, o homem forte e impenetrável,

De repente, não suportando a consciência da morte,

Cai ao lado dela, desesperado!

E como se um milagre acontecesse,

Chora, chora e chora tanto,

Beijando-lhe a mãos sobre o peito.

Maria, Maria! Entre soluços a chama.

Por que Maria, por quê?

Mas de seu silencio, Maria apenas o fita.

Diz, meu amor, por que foste embora?

Por que me deixaste aqui tão só?

Diz, querida, por que não me esperaste?

Por que, meu bem, assim me desamparaste?

Maria, Maria... Não vá embora!

Mas Maria apenas fita-lhe os olhos...

No silencio de Maria, há um peso profundo.

Todo o seu corpo está paralisado.

Apenas seus olhos claros ainda o fitam,

Querendo falar, falar, falar!

E como que num passe de mágica,

De repente, o homem ouviu

Não a voz implorosa de Maria,

Mas uma voz firme, calma e decidida,

Que devagar se fez ouvir:

_Por que chora agora, o mais forte dos fortes?

Olha para mim, homem, olha para mim!

E a voz continuou a soar-lhe na mente:

_Meu amor? Como, agora, me chamas de amor?

Jamais me chamaste assim, ou de meu bem,

Muito menos, de minha querida!

Homem valente, corajoso e sempre certo,

Onde está agora, toda a tua altivez?

Onde estará a tua força, homem invencível?

Será que estava em toda a minha fragilidade?

Será que agora choras por mim, será mesmo?

Ou não será por ti mesmo, que agora choras?

_ Maria...! Repetia, aos prantos, o forte homem.

Mas os olhos de Maria continuam a fitá-lo!

_Levanta-te do meu peito. Solta-me as mãos.

Não procures movimento em meus lábios.

Olha em meus olhos, e escuta-me:

Jamais ouviste dizer que o tempo corre?

Será que de tua altivez, pensavas comandá-lo?

O tempo é indomável... Agora é tarde!

Porém ainda podes fazer-me uma só coisa:

_O que Maria? Soluçando pergunta ansioso.

Que posso fazer por ti agora, se nada antes te fiz?

Se me encontro na dor, antes minha desconhecida,

E na fragilidade, aos prantos por ti?

_Apenas... Fecha-me os olhos!

03-07-97