PASSE DE MÁGICA
Não há nenhum passe de mágica
para o gozo pleno.
Antes,
muito antes de tudo,
foi necessário ter sido um namorado cuidadoso,
que aprendeu a beijar bem, bem ao gosto
[de preferência, com molho]
da saliva ao ponto.
Não há nenhum passe de mágica
para o gozo pleno.
Durante,
enquanto a nudez do corpo
tiver sido absolutamente desnecessária,
[por enquanto]
haverá de se gastar confidencias ao pé-do-ouvido
como quando falávamos ao telefone
sem perder exclamações!
Não há nenhum passe de mágica
para o gozo pleno.
Jamais, em tempo algum,
dirija comandos em tons imperativos
e queira exibir
[de imediato]
camisinhas ou cremes para massagens.
Estar junto numa só cama
[por si só]
é uma atitude única
dos que amam.
Como se diz por aí, no populacho:
o coletivo de dois é par.
[sempre par!]
Não há nenhum passe de mágica
para o gozo pleno.
Abuse do carinho
com a mesma naturalidade
daqueles que não marcam encontro,
[nada acontece ao acaso]
e deixe o amor invadir suado
os corpos que se acharam achados
únicos, numa paz de inverno.
Não há nenhum passe de mágica
para o gozo pleno.
Depois? Ah, depois!...
quanta consciência, conforto e clemência
para os corpos em estado de repouso
a contemplarem-se ante aos desiguais espelhos:
[sábios, naturais]
incompletos.
Para o gozo pleno,
[complexo]
a simplicidade, vez em quando, tem sentido,
e desnecessário será qualquer passe de mágica.
Basta amarem-se, verdadeiramente.