Rei Cego.

Aquela mancha negra parada no céu hoje

É a mesma mancha negra de ontem

Aquele soldado triste na calçada

Carrega os mesmos sonhos de criança

As dores, as flores mortas e os deuses

São os mesmos

O passarinho em janelas abertas

Ainda canta

Há um sino batendo na catedral

E eu ouço

E continuo pensando em círculos

Sentado em meu trono de agonia

Segurando os velhos anéis de ouro sob a chuva

Mas esse é meu destino

Ser o Rei da Tristeza

Ser um Rei de aparências

Ser um Rei rico

Ser um líder podre

E continua aquela mancha negra no céu hoje

É a mesma mancha negra de ontem

Minha coroa reflete pessoas

Em suas vidas tortas

Com olhos de inverno

De bolsos e estômagos vazios

Essa gente de sol

Essa gente de cores

Essa gente muda

Permaneço imóvel na tempestade

Esperando esperança

De roupa vermelha de seda

Anéis de ouro

Cetro de cristal

E não me rendo

Continuo parado

Mesmo com a vida acéfala

Mas esse é meu destino

Ser o Rei da inércia

Rei do desserviço

Rei da desinformação

Cumpro meu papel

Parado

Aquela mancha negra no céu

É a mancha negra de todos os séculos

É a mancha negra de ontem.

Vanessa de Moraes
Enviado por Vanessa de Moraes em 17/09/2008
Código do texto: T1182568
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.