Rei Cego.
Aquela mancha negra parada no céu hoje
É a mesma mancha negra de ontem
Aquele soldado triste na calçada
Carrega os mesmos sonhos de criança
As dores, as flores mortas e os deuses
São os mesmos
O passarinho em janelas abertas
Ainda canta
Há um sino batendo na catedral
E eu ouço
E continuo pensando em círculos
Sentado em meu trono de agonia
Segurando os velhos anéis de ouro sob a chuva
Mas esse é meu destino
Ser o Rei da Tristeza
Ser um Rei de aparências
Ser um Rei rico
Ser um líder podre
E continua aquela mancha negra no céu hoje
É a mesma mancha negra de ontem
Minha coroa reflete pessoas
Em suas vidas tortas
Com olhos de inverno
De bolsos e estômagos vazios
Essa gente de sol
Essa gente de cores
Essa gente muda
Permaneço imóvel na tempestade
Esperando esperança
De roupa vermelha de seda
Anéis de ouro
Cetro de cristal
E não me rendo
Continuo parado
Mesmo com a vida acéfala
Mas esse é meu destino
Ser o Rei da inércia
Rei do desserviço
Rei da desinformação
Cumpro meu papel
Parado
Aquela mancha negra no céu
É a mancha negra de todos os séculos
É a mancha negra de ontem.