As Aventuras de Batman no Castelo de Axel
As Aventuras de Batman no Castelo de Axel
Por: Jayro Luna
São Paulo
Epsilon Volantis 2003.
(1.ª edição – do autor: 1984)
Da Metalinguagem ao Metamoderno
Este é o século dos manifestos na Arte e na Literatura.
Mil teorias, muistos “ismos”; lembro-me de uma canção de John Lennon: “Give Peace a Change” (Bagism, that’ism, etc...). Também este é o tempo em que o novo se instaurou como tradição e daí porque todo novo já é em si mesmo velho e de uma velhice inodora, longe de ser a velhice dos bons vinhos. Muitos manifestos marcaram e não compreendemos hoje a literatura sem eles: Moderno, Dadaísta, Surrealismo, Futurismo... Teorias se fizeram necessárias para a metalinguagem e a verificação de estratégias: Concretismo, Práxis, Processo.
Mas hodiernamente bem notaram Habermas e Alvin Toffler, estamos num “crossroads” ou numa encruzilhada de sexta-feira, confirma-se, por enquanto, a teoria de Vico, a linguagem edênica de Joyce: o ciclo se repete, essa é a época em que a serpente morde a própria cauda.
Portanto, é preciso repensar o papel do poeta (mesmo que seja esse papel uma folha em branco), logo estaremos colonizando outros mundos, tornando a ficção científica obsoleta e cotidiana.
O poeta tem que ter os olhos livres para tudo e ser não apenas um eclético ou um quase-profeta (antenas da raça), o poeta precisa ser sinestésico. Já Drummond alertava sobre o Presente. A matéria inalcançável segundo a física moderna, pois tudo é passado. Por isso eis o Metamoderno: A multiplicidade pós-moderna deixa de ser um enigma para ser estratégia. Mas sem charlatanices e videntes: O rigor não é só científico, antes é divino e mitológico: Homero e Hermes Trismegistos, bem como Jesus já o sabiam.
Chacrinha e Raul Seixas merecem menções nessa perspectiva. O primeiro pela alegoria, pela carnavalização, pela síntese suprema do Tropicalismo e do Tropical. O segundo pelas metamorfoses, mais do que ovídicas, são videotípicas, também pela síntese da história em cortes sincrônicos: Salomão, Nostradamus, Jesus, Marx, Al Capone e Hendrix se contemporizam. Traduzir é trovar e criar é algo que não podemos fazer ainda, até agora só recriamos no Universo. O Hubble, p. ex., é um monóculo sobre um velho pergaminho. Einstein e Eisenstein sabiam que o poeta deve ser um grande jogador de dados, por isso o grande cientista também era músico, e o outro foi fazer arte no cinema.
MCMLXXXIX, Terra.
“B”
Tudo corre veloz e loucamente
Na cidade grande de Gotham City,
Automóveis businam ferozmente,
A poluição ofende a voz: laringite.
O sargento O’hara observa friamente
As pessoas anônimas no limite;
Risca o céu um avião, já prédios à frente
Ocultam-no. Nos muros mil grafites.
Um pacato cidadão em belo terno
Passeia a pé pelo amplo calçadão,
Folheia o jornal: hábito urbano eterno.
É Bruce Wayne lendo de arte a seção:
“Um evento milionário: Modernos
e Clássicos em grande exposição!”
“A”
Naquele instante na galeria de arte
Figuras espectrais estranhas riam,
Escondidas no sótão, sob deus marte.
À noite após o fim do expediente, saíam,
Gargalhavam, ecos por toda parte.
Uma luz dianesca entre vitrais que iam
Colorindo o ambiente, vinha destarte
Mostrar a silhueta, e assim surgiam:
?Quem é que se oculta atrás das palavras?
O C?arada! – Quem do frio tira a lavra
De um sujo ofício? – Pingüim! Quem do amor
Faz crime? – Mulher-gato! E por fim ainda
Rei Tuth e o gran vilão, o real Coringa!
“T”
(O Rei Tuth e seus Tutti-frutis roubando peças sobre Amenófis e Tuthankamon):
A
IRA
DO REI
TUTH, QUE
O FAZ URDIR
A VINGANÇA DO
FARAÓ COM A TOGA
(A Mulher Gato e seus gatunos roubando a tela “A Leiteira” de Vermeer Van Delft):
A
IRA
VIRIL
ARRANHA
A TELA AZUL-
ADA: AQUARELA.
MANHA VÃ DA GATA
“M”
(O Pingüim à procura de “Vapor Numa Tempestade de Neve” de Turner, O Charada amontoando telas de Dürer e de Velásquez. Ao lado o Coringa olhando os “Girassóis” tendo à mão um quadro de Mondrian):
A
RIR
O FRIO
PINGÜIM
A ROUBAR AS
BARROCAS TEL-
AS O REI CHARADA,
MAS CONTEMPL-
A VAN GOGH O
CORINGA:
-VEM RI-
VAL
!
HÁ-HÁ! HÁ-HÁ! HÁ-HÁ!
“A”
Súbito soa o alarme na polícia
O Comissário usa o telefone
Especial para dar a notícia
Ao herói que um saxofone
Tocava. Rápido...desce...um fosso
Junto com Robbin. Eis Adam West
Já de inconfundíveis trajes,
Liga um motor que reage
E qual o vento-leste
Corre aquel’colosso
Chega o bat-carro à teia da malícia
Donde chumbo grosso
Dos mais vis cafajestes,
Sabia-o desde a garage,
Já à parede sem alvoroço
Sobe Batman. Até aí é um teste
Fácil, mas mal na sala faz um esboço
Duma ação, a estultícia
Ataca, pois com silicone
Fez o Coringa uma imundícia
A super-cola que herói aprisione!
“N”
Inquire Robbin a Batman: -“Com mil
Demônios, Batman! Santa Goma-arábica!
Como vamos sair dessa?” Mas sutil
Responde o herói num ritmo silábico:
-“Há em meu bat-cinto, Robbin, um ardil,
Um antídoto pra cola farádica!”
E a dupla dinâmica e varonil
Solta das garras do mal e tão sádicas:
Ta-ran-rã ta-ran tã-tã! Pim-pow! Batman!
Ta-ran-rã ta-ran tã-tã! Zing-roll! Batman!
Ta-ran-rã ta-ran tã-tã! Batman! Batman! Batman!
Na luta infernal, socos velocípedes
Desmoronam os vilões, pés ignípedes
Põem os vilões a fugir celerípedes...
“Gotham City” (Segunda versão)
Mas é preciso ser Batman em Gotham City,
Sempre ler manuais de prestidigitação,
Morcego que não é vampiro, poeta beat,
Pedras rolando a ladeira da viração!
Mas é preciso ser Batman em Gotham City,
Correndo pelas avenidas ao bat-carro,
Consultar o bat-computador ao limite,
Obedecer às leis e evitar tirar sarro!
Pra ser Batman, preciso é novo paradigma,
Ser ávido leitor de mil humanidades,
Conhecer o valor somatório de sigma!
Pra ser Batman, preciso é mil habilidades,
Ensinar a um Robbin os vários enigmas
E ao som do rock vagar à noite na cidade!