Vivem os homens às Artes
Às artes, mais que aos homens, cabem
Respeito ao trabalhar-lhe e Amor no [fazer
Pois amor é necessário para se ter
E respeito é necessário com que se tem
Ela exige respeito
Pois possui leis próprias
Que até mesmo desconheço
Mas que, cego, obedeço
Ao tentar contar as histórias
Que lhes são de direito
Não tento fazê-la
Pois já está feito
Tudo aquilo outro
Que no mundo existe
Mas a idéia que persiste
É de transformar em ouro
Todo o bruto conceito
Que insiste em sê-la
Peço somente que me agracie
Que me ceda uma pouca infinitude
Própria, única e sua
Para poder dizer que me pertence
Aquela extensão que me cabe
Mesmo quando se sabe
Que, ao menos, pretende-se
Somente vê-la seminua
Sem minha interferência a amiúde
Para que alguém a aprecie
Dou a ela o que já tem
E que me retribui de bom grado
Pois o que me pede
Além de respeito,
É que em toda minha sede
Não seja eu desatinado
E só use as notas que convém.
Como todo o resto das coisas
Ela só faz questão daquela uma,
E se tudo busca harmonia
Porque então com ele haveria
De ser outra coisa importuna?
Seu equilíbrio então transmuta
No bailar de seus acordes
Baila a pena e a batuta
Vivem os homens à poesia e à música.