Casa caiada
Caneta de bico de pena
papel quadriculado
tinteiro quase sem tinta
(é um esboço de um quadro)
Um pássaro azul no ramo
trinando para os filhotes.
O sol entre as folhagens
(convite para seguir o norte)
Nada além da roseira
um espinho, talvez um corte
e a lágrima sentida da criança
inconsolável, pedindo colo
(a torneira mal fechada
gota a gota barulhava a pia)
A pintura sem horizonte
a cadeira encostada à parede
e a vida, sem perspectiva.
Maria olha José.
José olha os pés.
Pés fincados no chão batido.
José e seus braços caídos.
E o seu sonho de pintor?
No quadro, quadriculado
um tinteiro quase sem tinta
um esboço quase esvaindo
no seu sonho reprimido.