CANÇÃO TRISTE

Depois da chuva, eu seguia

Apressada, saltitante.

Levava também receio

Da tempestade distante.

Porém, como por encanto,

Ergueu-se no espaço a voz

De uma estranha mulher,

Cantando pra todas nós.

Uma bela melodia

Soava no ar lavado.

Era apelo dolorido

Dum coração magoado.

“ Dê-me trabalho, Senhora,

Que eu não quero roubar…

Tenha dó desta infeliz,

Preciso de trabalhar.”

Dotada de dom sem preço,

Encheu de magia a praça,

Provando assim possuir

Algo mais do que a desgraça.

À procura de moeda,

Eu, no bolso remexi,

De muito menor valor

Que o momento que vivi.

Ao passar pela mulher,

Estendi-lha, envergonhada,

A magia da canção

A perder-se, perturbada…

Lisboa, 5.11.05

Maria da Fonseca
Enviado por Maria da Fonseca em 03/03/2006
Código do texto: T118102