NATALINO, O MENINO DE VINTE E CINCO

Natalino,

apesar de ter nascido

num dia vinte e cinco de dezembro,

sempre teve alma envelhecida.

Bolas, ora, para quê?

Brincadeiras não lhe cabiam na alma

Era escasso de bom-humor.

Tornou-se morador da maioridade,

apesar do corpo esquecido da infância.

Sempre gostara de enfiar agulhas

em tanajuras, em cigarras, em baratas;

achava sublime dormir em meio aos ratos,

de sentir a miséria convivendo sempre ao lado

como se necessitasse dela para nela alimentar-se!

Seu pai matara sua mãe

só por causa de uma discussão

[não importa se consistente ou banal]

E Natalino ficou só,

proprietário da própria delinqüência,

acreditando na arma de brinquedo que ganhara

[quando]

descobriu que Papai-Noel era um brincador de sonhos,

suas barbas de molho ficaram

[tão tamanhas]

que logo embranqueceram.