Fragmentos
O gado do Mercado
que está pronto a ser sacrificado
no altar do Xamã
(que já será outro amanhã)
oscila de preço conforme o viés
de quem nunca ouviu os oboés
nessa trágica procissão de tantos Josés.
Gados tangidos, homens fingidos
e bezerros há pouco paridos
na terra das "Sem Maridos".
De lá os homens foram cuspidos
quando chegou a Máquina de Cortar Cana
que lhes tirou um troco de grana
e um resto de face humana.
Outra remessa sucumbirá
com a "Pilula do Dia Seguinte".
A não mãe faz o que lhe compete:
rumina chiclete
enquanto sonha ser vedete
e conhecer o falado espaguete
(é só outra Marionete).
Alguém fala sobre Sodoma,
de sexo sem véu nem redoma
qual teia de viscosa goma.
Outrém fala de Pó
e outro do Volga.
Lugar d'alguma Olga
que é o elo com a familia antiga;
arena de tanta briga,
qual Peloponeso e sua Liga.
Sumiu qualquer mão amiga,
morta de fadiga.
Mas agora a água está tratada
(já não é preciso roubar a água cortada)
para delírio da adolescente chata e drogada
e da velha puta assanhada.
Agora dizem que a Saúde impera
e que tudo prospera.
Vive-se o "Aquário" da Nova Era
e todo Real é só uma Quimera.
O erudito cita Sartre e o Nada.
Aquele, da Simone Liberada,
cujo anseio pelo mancebo
foi além do efeito placebo.
Foi o gosto do limão azedo
na cachaça de logo cedo
(com quatro, mais um dedo)
que espanta o "delirius" e o medo
do Gal. Amoedo, herói de brinquedo.
Mas caiu a Nasdaq,
vitima dos corretores de araque
prontos a simular um latino ataque
só para beberem conhaque
com pedaços de charque.
Tento ler Foucaut,
mas nem sei onde estou.
Sei que é uma Sinuca,
uma Arapuca,
com beijo na nuca
dado pela Nega-Maluca
que ia aos Carnavais de Poços
desfilar no bloco dos "Só-Ossos".
São castigos pelos crimes cometidos
nos velhos tempos já idos.
Quando os ódios remexidos
tocavam a Lira dos traídos
que escreviam poemas poucos lidos
e nunca entendidos.
Destino dos Aedos não ouvidos
e relegados a tristes olvidos.
E assim foi. Fechou os olhos sem saber
se era só um sono
ou só uma morte.