Mais forte que a noite
Mais forte que a noite
Do lume que a Lua ousa
Bebem as lamparinas
Longilineamente finas
Imãs p´ras mariposas
Na noite retilínea
O céu, como uma lousa
D´estrelas cristalinas
Entr´outras nebulosas
Abriga a neblina fria
E a brisa gentil airosa
Que, numa corrente esguia
Penetra os desvãos das casas
Tristes, porém, jocosas
Em sinuosas esquinas
Espectrais femininas
Deitam-se nas calçadas
Sombras encabuladas
Tortuosamente belas
Observando estrelas
Luzem qual fossem fadas
Pelas encruzilhadas
Lar da nicromancia
Arde a feitiçaria
Sobre as vidas ditosas
Sombras misteriosas
Quase irrefletidas
Curvam-se além das coisas
Presas a outras vidas
Almas já combalidas
Gemem subind´a escada
Gritam, sem ser ouvidas
Ecos na madrugada
Mentes entorpecidas
Vagam igual cometas
Em frenesi, gametas
Cruzam-se em mães despidas
Mentes efervescidas
Vidas tão desastrosas
Partem qual supernovas
Brios de suicidas
Lentas e esmaecidas
Ricas em rubescências
Tímidas ambulâncias
Piscam esbaforidas
Dentro de si, premida
Levam a noite oculta
D´onde só dor resulta
Da solução da vida
Gritos de horror, de luta
Ouvem paredes, becos
Tiros estalam secos
Quase ninguém escuta
Dentro da noite maldita
Este poeta ´inda tenta
Desta prisão onde habita
Ninho de caos e tormenta
Tenta, no luto da noite
Na solidão madorrenta
Que a inspiração afugenta
Senta, impingindo-se açoite
Luta n´arena da morte
Grita que o breu ´inda brilha
Pena, mas se maravilha
Diz que venceu o mais forte!
(Djalma Silveira)