MORDENDO A LINGUA

Ao som de milongas e boleros, persigo o fim .onde

almas atormentadas, peregrinos, sem sorte,

mastigando luas, trituram a morte.

Mordo a língua, quando refém , na dança macabra

de orgias diárias, tento a exorcização

por pecados ; os já tatuados e os que virão.

Flecha endereçada não agride

plano arquitetado , talvez não se ultime.

Mordo a língua, quando, sonâmbula à beira do caís,

na corda bamba, cega, sacudida da base ao cume.

nada comprova o real , e entre a inconsciência , a malvadez

e no antropofágico amor, sordidez.

Mordo a língua , ninguém percebe,( nem querem perceber,)

que

melhor estar com quem devora , do que nada ser.

Mordo a língua

cada vez que ao redor, pululam egos, e estes,

não estejam vestidos, de carne e suor, continuando,

arremedos/esboços ocos, depedurados incólumes,

em seus vazios barrocos.

Mordo a língua, na quixotesca cena,

quando ambulantes não dançam, por estarem

sem par, sem heróis, antí heróis,

Fujo desses fide/indignos, nem danço mais.

Mordo a língua, pelos complôs, conspirações,

inconsciência incauta, sabendo que após

essas serpentes,

morderão a própria cauda.

Mordo a língua, babo, espumo, sangro,

quando ao invés , de dar-me um sôco na cara

e nas sandices do interlocutor, murmuro,

hipócritamente : - Sim Senhor !

Mordo a língua,

enquanto tantos, mordem, minha náusea.!

Marilene Garcia in/ MORDENDO A LÍNGUA