Apenas Outra Estória

Há muito tempo atrás, em outro lugarejo qualquer,

via-se uma vila

Era uma vez uma vila

Uma vila se me permitem dizer assaz interessante

Próxima de todos, porém de tudo distante

E nessa vila moravam pessoas, nostálgicas como um amante

Próximas de tudo, porém de todos distante

E nesse lugarejo qualquer,

Em algum lugar dessa vila interessante,

havia uma casa

Era uma vez uma casa

Linda casa, sem dúvida, de todas a mais elegante

Vinte palmos de canto a canto mais um jardim desconcertante

Era parda a casa, na qual se via escrito à porta adiante

“Simples, porém de beleza estonteante”

E nesse lugarejo qualquer,

em algum lugar dessa vila interessante,

dentro dessa casa elegante,

morava um velho

Era uma vez um velho

Um velho agora, outrora um vagante

Vagante sem rumo, não era mais do que um errante

Errante que desistiu de vagar, não via mais caminho adiante

Adiante via apenas uma vila, uma vila e uma casa elegante

E nesse lugarejo qualquer,

em algum lugar dessa vila interessante,

dentro dessa casa elegante,

ao lado desse velho errante,

vivia um cachorro

Era uma vez um cachorro

Oh céus, pobre era o cachorro agora já manco e arfante

Antes um frondoso sabujo, agora nem sequer um caquético andante

Nada mais queria o velho canino, além de outro canto aconchegante

Ao lado de seu velho errante, dentro de sua casa elegante

E nesse lugarejo qualquer,

em algum lugar dessa vila interessante,

dentro dessa casa elegante,

ao lado desse velho errante,

perdida nesse sabujo arfante,

encontrava-se uma pulga

Era uma vez uma pulga

Uma pulga que de tanto pular cansou-se, e por lá repousava ofegante

Pobre pulga, nada mais era do que um pequeno grãozinho itinerante

Mas era ela uma pulguinha otimista, meu nobre passante

Perto de tantos grãos de areia e flocos de neve, via-se ela um gigante

Porém meu caro amigo falante,

Passam-se os tempos por lá como passaram eles por aqui,

E agora nada mais por lá existe...

Não mais a vila interessante,

Não mais a casa elegante,

Não mais o velho errante,

Não mais o sabujo arfante,

Não mais a pulguinha itinerante...

Sobraram apenas um punhado de estórias e contos irrelevantes

Estórias essas agora já muito antigas sobre outro lugarejo qualquer...

Onde via-se uma vila

Era uma vez uma vila se me permitem dizer assaz interessante...

Daniel Palatnik
Enviado por Daniel Palatnik em 01/03/2006
Reeditado em 02/03/2006
Código do texto: T117373