EU TE CONCEDO A BELEZA DE UM VERSO

Eu te concedo a beleza de um verso.

Colhido no sereno,

no orvalho de uma pedra

perdida. Te abro

as janelas de um mundo novo, com doces

palavras plantadas na terra

na eterna paz dos sambaquis.

Eu te concedo o refrão que as árvores

vivem a cochichar quando um pássaro passa

o ah! que o fim do túnel suspira

com sua luz redentora.

A letra que aproxima o longe

e antecipa o hoje.

Eu te concedo a beleza de um verso, meias brancas

e sapatilhas vermelhas. Te convido

a dançar nas claras calçadas do primeiro dia,

que a gente ainda lembra

de cor e salteado. No caminho te compro

sorrisos e mãos estendidas.

Eu te concedo a delícia de um volta

no carrossel da manhã

que a gente sonha,

o lugar na plateia do circo que já vai embora

mas nos deixará sempre meninos,

de mãos dadas com a saudade.

No trampolim do dia

a infinita hora

de pular, cair e pairar.

Eu te concedo a beleza de um verso.

Riscado no velho

quadro-negro da memória

soprado no mata-borrão dos teus cabelos.

João Lima

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