SEM PALAVRAS
Chora, poeta, o teu desencanto,
Rebusca na mente a forma mais culta
E teu mundo pequeno verás que sepulta
A rima ideal de expressar o teu pranto.
Ao verbo te falta a expressão profunda,
À mente te foge a grandeza sentida,
A boca te cala, também moribunda,
E apenas na alma apalpas a vida.
Recalca no peito a dor que atormenta
- não vês que a morte já perto te acena ?
Maldize tua sorte, tua sina incruenta,
Maldize a palavra que é tua pena.
Maldize, mil vezes, a ausência total
Do verbo que exprima o que vai em teu peito...
É tarde, poeta, mui tarde, sem jeito,
Não podes falar, sem cura é teu mal.