A CARA DAS PALAVRAS

Palavra...

Realce de uma expressão,

indicando uma suspensão,

ou interrupção

de um pensamento:

“...a vida é punição, sonho, mentira.

E eu pensando que”.

Palavra tem cara?

quantas caras?

caras ou baratas?

raras ou bobas?

tolas ou “teolas”?

Mil caras?

quantas caretas?

talvez facetas?

A palavra procede de?

Inclusão no texto,

transcrição do trecho,

talvez pelo avesso,

mas com caráter explicativo,

para não confundir.

Ou quem sabe?

para ‘canastrar’ as almas

esfomeadas,

semeadas por paixões.

Intercalar realces,

partículas subjetivas,

comentários e ilusões.

Uma palavra escrita

deve ser lida,

deve ser ouvida,

até reproduzida,

proposital,

“despudoral”,

intencional,

humor contraproducente...

As caras das palavras,

das palavras caras,

e também das baratas,

devem ser ouvidas,

assistidas, caladas,

faladas ou impenetradas,

por mediador,

interlocutor,

ator.

Que representa

com mil olhos,

manejos escabrosos,

às vezes deliciosos,

indecorosos,

pudicos,

únicos,

teatrais.

Mil caras...

mil olhos...

mil palavras...

mil facetas...

e seguem....

são o seu ganha-pão

de milhar na palma da mão,

da sua ilusão,

da sua miséria.

Esgota-se...

na super-agitação

na representação,

na excitação das

caras das palavras,

que abrevia a vida

e não se entende por quê.

Silvânia Mendonça Almeida Margarida

Setembro de 1995

Silvania Mendonça
Enviado por Silvania Mendonça em 09/09/2008
Código do texto: T1168969
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