Olhe-me

OLHE-ME

PANCHO GUEVARA

Olhe-me

não te esconda atrás da franja

olhe-me

não deixe de olhar-me

quero fundir-me, imergir-me

na piscina profunda azul

afogar-me de pupilas dilatadas

olhe-me

olhe-me em silêncio

até chorar

até ficar sem alento

olhe-me rápido, correndo

e que se gastem as solas dos olhos

que se esgote toda a cor

e acabe o brilho

olhe-me todo o roxo, todo o verde

não me deixe nada de amarelo

nada celeste

não deixe nada

fundo veja-me

olhea-me

funda-me olhos-punhais

morda-me iris – aranhas

avistos-pupila cair olhos-girando-negra-nada

vista-febre-vértigo-silêncio

eu cair-tu-vista-preta

você vértigo-avismo-pupila-olhosdefada

meus eus crucificando olhos-sentença

teus vocês me ferindo de mirada

cravando

fira-me mas não,

não não afaste o olhar

olhe-me até às 12 da noite

até às 3 da manhã triste

e que se caiam as estrelas

olhe-me e que chorem as almohadas olha-me

olhe-me com os olhos, com as mãos, com teus seios

com teu sexo molhado e tua língua,

com teu nariz gelado

com tua cabeleira solta

olhe

veja

olhe me

com tuas pernas tremendo pelo frio

véme

veja os ecos do som

veja os ocos de minhas mãos

meus dedos sem

sem olhos!