Obliteração

...Então eu abro a janela:

A casa vazia é tão vasta quanto a madrugada.

Que ruído é esse

Como gota pingando numa gruta?

Em algum lugar uma torneira pinga...

Em algum lugar

Próximo às grandes sombras...

Ventava aquela noite, e uma bandeira despregou-se do mastro.

Chamo por alguém:

“Olá!...”

...

Os passos na calçada não têm pressa,

Não têm corpo também

Os passos no escuro.

Na rua não há lâmpadas acesas,

Nem na cidade, nem na vida...

Mas nas montanhas alguém está de sentinela.

Espero dormir nas montanhas,

E então terei um tigre velando por meu sono.

Nenhuma porta se abre...

Do outro lado,

Na mansarda,

A mão exausta descalçou a luva

E esqueceu-se da chave.

O relógio parou

numa hora improvável.

(Do livro "Vento e Folhas")