Sob o Manto Silencioso II

Sob o manto denso e irrecusável

do silêncio tenso e indisfarçável

de quem se cala, em ânsia,

ante sua própria ignorância,

contemplei minha sombra,

reflexo de meus passos.

E me vi, esculpido por meus erros,

na vestimenta cármica da carne

tal qual um mero rascunho,

repleto de espaços em branco

e linhas despidas de significado.

Eis-me, incompleto e, por certo, errado.

A hora caminha alheia

numa dimensão paralela,

invisível,

inaudível,

intocável

e, acima de tudo, irrecorrível.

Semeio ações e argumentos,

teço idéias, emoções e pensamentos,

na rega sofrida,

na regra sofrida,

buscando erguer a flor caída,

no resto de vida

ainda não perdida.