Último sabiá que ouvi
Canta, ó sabiá, canta comigo
e vê da altura deste edifício
em qual mais alto galho cantas tu
nesta cidade já desacordada,
sem passos,
sem pássaros,
sem estradas.
Hei de lembrar-te, ó ave bela,
do ouvido ao coração
como se teu canto fosse uma tão viva oração
a livrar-me do esquecimento de algum pecado.
Eu me culpo por teu fim
e sei que de dentro de mim jamais terás sumido
enquanto lembrar-me do teu canto,
que de minha alma foi em tempos tantos
o maior encanto que beijou os meus ouvidos.
Canta, ó sabiá, canta comigo
que te esperarei morrer, amigo,
para junto de ti me enterrar também,
só e descantado com a vida.