Monólogo
“Solidão é um sofisticado jogo de esconder em que é uma alegria estar escondido, mas um desastre não ser achado.” Winnicott.
É bom chegar a casa,
Percorrer os cantos com o olhar,
Encontrar tudo em ordem.
Exatamente como deixei.
É bom ouvir o silêncio calmo das paredes,
A mansidão dos sofás indolentes,
O aconchego dos travesseiros cúmplices,
Á valsa das cortinas e do vento,
Rodopiando sob o foco das janelas sorridentes,
É bom chegar a casa,
Porto seguro das agitações da rua,
Para descalçar os sapatos, desapertar os nós,
Percorrer os cantos com o olhar,
Encontrar tudo em ordem,
Exatamente como deixei,
Exatamente como deixei,
Exatamente como deixei...
Ouvir o silêncio, olhar os sofás,
O travesseiro, as cortinas, janelas...
Exatamente como deixei...
Uma arrumação sem vida,
Sem serventia - silenciosamente fria.
Saltos da imaginação à projetos natimortos,
Despertencimento...
Inútil paisagem caprichosamente composta,
De esperanças vãs,
Chegar a casa é solidão,
Tanto quanto estar no meio da multidão.
Como chegar a casa? Não há casa!
O que há são monólogos entre paredes ecoantes,
Reverberando tempos ocos de mim.