Monólogo

“Solidão é um sofisticado jogo de esconder em que é uma alegria estar escondido, mas um desastre não ser achado.” Winnicott.

É bom chegar a casa,

Percorrer os cantos com o olhar,

Encontrar tudo em ordem.

Exatamente como deixei.

É bom ouvir o silêncio calmo das paredes,

A mansidão dos sofás indolentes,

O aconchego dos travesseiros cúmplices,

Á valsa das cortinas e do vento,

Rodopiando sob o foco das janelas sorridentes,

É bom chegar a casa,

Porto seguro das agitações da rua,

Para descalçar os sapatos, desapertar os nós,

Percorrer os cantos com o olhar,

Encontrar tudo em ordem,

Exatamente como deixei,

Exatamente como deixei,

Exatamente como deixei...

Ouvir o silêncio, olhar os sofás,

O travesseiro, as cortinas, janelas...

Exatamente como deixei...

Uma arrumação sem vida,

Sem serventia - silenciosamente fria.

Saltos da imaginação à projetos natimortos,

Despertencimento...

Inútil paisagem caprichosamente composta,

De esperanças vãs,

Chegar a casa é solidão,

Tanto quanto estar no meio da multidão.

Como chegar a casa? Não há casa!

O que há são monólogos entre paredes ecoantes,

Reverberando tempos ocos de mim.

Paula
Enviado por Paula em 06/09/2008
Reeditado em 13/09/2008
Código do texto: T1165292
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