Anoitecer
Na rua,
Numa tarde sombria,
Num golpe repentino
o vento arrasta papéis e folhas secas
e agita os cabelos da menina dos fósforos.
Faltou luz
E no céu as nuvens de chuva se avolumam
lembrando presságios.
Nas janelas
Rostos lívidos aparecem para ver esses sinais.
Uma velha vai calçada afora,
Desaparece num beco,
Numa portinhola nos fundos de um pátio.
Alguns a diziam uma bruxa,
Uma dessas feiticeiras que dançam seu sabath à meia-noite
nas sextas-feiras negras,
Mas outros simplesmente garantiram que ninguém passara por ali,
“Uma visagem” afirmavam,
“Sim, pois ela morreu há muitos anos”.
Quando sobreveio a noite
Na aldeia secular só se escutava a ventania
E um choro de criança enferma n’algum casarão,
Enquanto a luz das lamparinas tremulava detrás dos postigos fechados
E, fora, rondavam a peste
e os lobos famintos
à espera da incauta presa.