Saudade Caipira.
Hoje o céu amanheceu tão azulzinho e o meu coração se fez tão miúdo.
e de saudade quase se partiu.
lembrei do povo da minha cidade, lá não tem mardade, e podemo até andar c'os pé no chão.
e a gurizada queimada de sor, faz um arvoroço e se banha lá do riozinho de águas crarinhas, como ocê nunca viu!
Lá se pranta tudo e a terra dá.
e se demora o fruto, a vizinhança troca:
quem pranto repolho, troca por batata
quem pranto abobra, troca por cará!
Ocê num faz idéia como é hospitalera
como é desprendida a vizinhança lá!
Lá se tem o costume de rezar a Ave Maria e o Padre nosso pra se levantar.
e a gurizada e os home feito, ainda beija as mão do padre que a missa vem rezar.
Uma vez por outra, chega gente nova
e aparece queixa de home que olho para a muié alheia
mas tudo se resorve, sem ter pé de orelha
e volta tudo p'ro seu devido lugar
num tem intrevero com o povo de lá.
lá nóis não tem luxo, nóis come, nóis bebe, nóis pita.
a comida é farta e o camarada num tem que roubá
mas se for valente ele caleja as mão de tanto carpina.
E quando chegava a noite lá minha terra, meio pé de serra
Ia eu a minha morena e os menino novo, sentava tudo na soleira de terra batida pra mó descansar.
Ficava ouvindo umas anedota e depois o choro d'alguma viola.
Pra de manhã bem cedo, pra lida vorta!
Mas aqui nessa cidade grande, que trouxemo os fio pra virá doutor
é tudo deferente e os meus vizinhos
nem sabe quem sô!
vez ou outra pela madrugada, ouço uma graúna com seu grito triste.
e o meu coração se descompassa o ritmo e se enche de dor.
Por que eu vim me embora, mas o o meu coração nessa cidadezinha, por lá se fincou.
e eu garro na minha viola e ela geme. Eu choro, uma canção de amor!
saudade do meu ribeirão, das minha prantação e da bicharada e dos meu cumpadre que deixei por lá.
Mas se tudo por onde passemo é caminho, eu peço ao criador:
Me faça um caminho para eu regressar!