A cor da globalização

Um dia, quando abrires teu silêncio

ao meio-dia, tudo à volta estará

em gritaria de caos, em desordem de amor.

E sentirás o peso da fria e desolável

indeferença, enquanto observas

as pessoas, apressadas, em rituais

próprios que configuram desgraças

pessoais e intransferíveis.

É uma dor que lhe saltará aos olhos.

Vê-los presos e automaticamente repartidos,

na decadência particular de universos utópicos...

Salva-te!, é tempo!

Não se divida em homens-tarefas,

Nem em mulheres-afazeres, domesticais.

Talvez caminhemos em comum

na mesma predestinação monótona...

É preciso regressar.

Voltar do estorpor,

Daquilo que nos prende aos moldes

de cidadãos aparentemente modelos.

Fazer um filho, quem sabe...

Um poema, brilho de muitas faces...

Colorir uma dor, um tom, uma forma...

Reinventar a simetria das coisas

até torná-las pictórias e risíveis...

É uma bela atividade, embora crua.

E, descalços, brincar como meninos

que vivem à solta em pátios desabitados

por mundos edificáveis e autoritários...

A simplicidade do menino talvez

salvaria o Diretor da desgraça geral;

Mas nós continuamos, insistentes,

organizando maletas e despachos e protocolos e sedex.

Alimentamos nossa cólera interna,

com passos rápidos em direção

à destruição do que é global, genérico. Do mundo.

Quando muito, eu queria, tão só,

Um pião multifacetadamente colorido.

(Die)

Fernando Marini
Enviado por Fernando Marini em 06/09/2008
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