Resignação

Poderia te falar das noites não dormidas

Em que a saudade ampara-me os olhos

Talvez devesse te dizer da sombra das palavras

Essas que se abrigam atônitas em meus dedos

Encarcerando as verdades que tanto nego

Quem sabe fosse preferível confessar

As vertigens que oculto entre as paredes

Quando é apenas teu nome pronunciado

Por quem sequer te sabe em mim

Sim, falo-te desse ritual a que cede meu corpo

Antecedendo tua chegada, ainda que apenas memória

Porque continuo a te inventar em minha solidão

Indiferente aos letreiros de néon que estampam avisos

Denunciando a distância que meus olhos vendam

Como se a ausência ofuscasse as marcas delineadas

Deixadas pela ternura de apenas me desejares

Talvez devesse te contar da calma que forjo

Quando me acorre a lembrança da tua voz

E num sorriso casual e frio apago os tremores

E sei-me vil, ardil e dissimulada

Imolando as carícias que ajoelhadas pedem-me por ti

Suplicando alguma clemência, quiçá piedade

Mas não me movo, apática, finjo não entender

Letárgica, consumo-me entre a dor e o desamparo

Consumada pelo silêncio que me deste como caminho

Esse estranho idioma que ensinaste meus lábios a ler...

Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 26/02/2006
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T116388