Liguei o computador
busquei a internet...
navego com o explorer
como barco doido à deriva
estrelas em bites e megabites
céus estrelados de sites
busquei tua URL e apontei
a flechinha do mouse
na direção do teu nome
que veio pousar no retângulo
e na folha em branco escrevi
SAUDADE
e no meu peito borbulhou
o coração
na branca folha escrevi
PAIXÃO!
Escrevi tudo que minha boca
não te fala
tudo que num ímpeto
resvala
direto pro teu olhar
será que vais ver, vais ler?
Enquanto no meu cérebro
acontecem mistérios de máquina...
...a que estará conectada?
Ao sol, à lua, ao infinito
a um deus, energia cósmica?
E aqueles cérebros de cristal
são simples "achados arqueológicos"
que os gênios da ciência preferem ignorar?
Liguei o computador e me senti justificda
em ser um dos 16 vírgula alguma coisa percentuais
de gente conectada à NET
mas minha solidão de bicho
fica cada vez maior e mais triste
porquanto meu sangue
não tem sentido
diante da tela fria
minha humanidade gravita em tons pastéis,
meus ouvidos ensurdecem ao exagero dos decibéis...
Na branca folha escrevi SAUDADE, PAIXÃO
e meu sangue se agitou e meu peito se apertou
mas quando fores ler vai ser só um momento
onde as palavras já estarão moribundas
e logo morrerão diante dos teus olhos
e se já diziam pouco do que sinto e vivo
terminarão como esqueletos sem vida
como espectros em códigos restritos
tentando, em vão,
ser mais do que enfim são
ser mais do que pobres palavras...
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