A Lei e o Arrepio

Ao arrepio da Lei

eu sempre andei.

Vivente insistente

n'alguma caatinga de "ó xente".

De quase tudo se ressente

o quase tudo da gente.

Mas é pouco o que se sente

nesse apressado Presente.

Foram bons os dias já ausentes

quando eramos valentes tenentes

nas revoltas prementes

contra as Leis dementes.

Ao arrepio (?) da Lei

até senti o Mundo acabar.

Muito apanhei, mas pouco chorei

esperançando o "Che" chegar.

Antes, porém, chegou-me a Madureza

e esse desencanto; já nenhuma Lei arrepio.

Tornei-me o Lago que finda o Rio.

Lutei a minha luta

e não sei se foi frágil a minha mão

(mas alguém se pinta de verde-amarelo).

Talvez não.

Mas já pouco importa.

Ficou reta a minha vida torta.

E distante aquela porta

que me levou à Revolução da Marmota*.

Acomodei-me às certezas

de estúpidas vidas burguesas.

Resigno-me ao Capitalismo à chinesa

e até rio das antigas proezas.

Velho, fiquei um "Cidadão de Bem".

E talvez seja mesmo, só isso

que o Mundo têm:

vidas e jardins planejados e flores sem viço.

* Inspirado na "Revolução dos Bichos".