você que me tem de cor

eu vou continuar procurando

você me conhece, sabe que vou continuar freqüentando

as mesmas desculpas de sempre,

os lugares-comuns das coisas que a gente sente...

eu vou, e você nem vai ficar sabendo...

que fui eu a pessoa a rezar seu sono,

e a continuar benzendo

os seus caminhos

e seus passos, tão mesquinhos...

de tudo que há de mais divino e complascente

dentro de alguém como eu,

um simples ser vivente,

você teve o gesto, genuinamente

- e o manteve em suspense.

você nem vai querer saber de mim...

dos meus copos vazios e cinzeiros transbordantes

que ainda jazz um resto torturante

reincidente;

ainda resta um resto

pro santo

que afasta as usuras dos levianos

e faz entoar esse canto, alucinante

que acorda as ruas;

esse grito abafado, as mãos contra o próprio peito

- espalmado!

a escoar pela garganta

seca, rouca, delirante

o gosto amargo

de nossas bocas militante,

o gosto entrevado!

de cigarro esquecido

no cinzeiro,

apagado.

todas essas coisas,

tantas coisas...

que você nem vai querer saber

permanecerão inertes,

saturadas,

até um novo dia amanhecer

dentro de mim.

Lynce
Enviado por Lynce em 03/09/2008
Reeditado em 29/08/2009
Código do texto: T1160575