NORDESTINO MALVADO @ (COR)
(CORRIGIDO)
NORDESTINO MALVADO.
Saí daquela terrinha boa sim “senhô”,
Foi a seca braba que me fez partir
Deixando pra traz, mulher, filhos, filhas,
Criação, miséria sem fim...
Fui tentar em terras distantes
nova sina para minha vida,
Tive que reaprender tudo, porque o que eu sabia
fazer, p`ra cá nada servia, capina de mato ralo, seco,
saroba, preparar açude em troca de vintém, vida
apertado seu moço , eu tinha...
Agora sou servente, estou aprendendo a ler e a escrever.
Até no fim do ano, serei pedreiro.
Os prédios de sua cidade ajudo a construir.
No final do dia, calos, cansaço, humilhação...
Vem cá pau de arara, faça isso, faça aquilo, não pare
vagabundo , trabalhe , trabalhe, areia, água com fartura,
cimento, mexa tudo... Depois,
tábuas , madeira , carrinho, pá , enxada , tijolos , telhas,
pregos, martelo, picareta , salário , que bom...
Comida, jabá, carne seca, maquaxeira, rapadura...
Que bom...Mas será que lá em casa tem o de comer,
ou tem fome...Tem doença... Tem reza...
Tem morte...
Abandono...
Mas o “padim pade ciço protege sim senhô...”
Os meses vão passando, os anos, a vida...
Noticias de casa cada vez menos,
Sempre piores...
Um dia, a realidade.
O dinheiro que não mandava para casa era pouco,
Não dava pra voltar...
Que desespero, que dor, que fazer...Pensar...
Parece até que o “padinho” me abandonou...
Aquela idéia ruim me alcançou,
Compre um revolver, assalte...
Na primeira investida, fui apanhado, espancado ,
Xingado, condenado...
E agora, nem aquele dinheirinho a minha família.
Não tem, nada, só mais fome, mais doença miséria...
O que será de nós, meus deus, com essa distribuição de
renda tão injusta...Só cadeia, muita cadeia...
Vida apertada moço, eu tenho...
Goiânia, 08 de abril de 1998.