FRANCISCO
Um dia, talvez no sertão,
sobrará um pouco mais de dia
quando o sol, sol sempre estará
enquanto o dia souber arder.
Um dia, talvez no sertão,
trovejará para acolher São José
quando o sol, sem estar, encolher
para a água da brotação ficar
nos céus dos mandacarus.
[O sol fez sua função]
Quem sabe, talvez um dia,
quando os ventos sudestarem
e mudarem Francisco do seu curso,
[o pobre voltará a ser rico]
o povo
[já condenado]
que migrou como ninguém
voltará a ter cultura,
melhores dias de sol,
quando o sol só era sol
mesmo antes, até, de arder.
Amanhã, um dia, quem sabe,
a palma não alimentará mais a sede
do gado parco, dos retirantes, dos vaqueiros,
dos filhos dos filhos que, desde cedo, sabem rezar
a missa que Raimundo Jacó encomendou.
Quem sabe, assim, um dia
uma cantiga de sanfona numa caatinga nordestina
cantará o lamento dos dias em que o sol ardia,
quando os passarinhos abanavam asas
para que o calor logo passasse.