SOLIDÃO

Ah! solidão, silente solidão!...

Verso perdido, feito folha tonta,

Nas cumeeiras negras da paixão.

Barco adernando na fraga ligeira;

Abismos feros, fundos, abissais,

Prenunciando a morte derradeira...

É a solidão... Vem vindo mansamente.

Os elementos todos estertoram,

O coração se faz opalescente...

Esturra, seca, medra a insegurança;

Impõe-se o medo, fulgem as gazuas;

Vai-se o vergel, as flores da esperança...

Eis..., instalou-se sem pedir licença.

Esfomeada, com os peitos lassos,

Sufoca sonhos, luz indiferença.

É cortesã, ocupa seu espaço...

O ninho faz na clâmide do ser,

De cor escura, prenhe de mormaço.

Veste grinaldas, suscita pesares;

Provoca dores incontidas, densas,

Amortalhando, corrompendo os ares.

Vem vergastando tudo, de vencida,

As ilusões, as forças, alegria;

Gozo, prazer, e faz cessar a vida.

Ah! solidão, senhora da agonia!

Deixa que viva este ser deserto

Os solitários versos, a poesia...

Valdez de Oliveira Cavalcanti
Enviado por Valdez de Oliveira Cavalcanti em 17/11/2004
Código do texto: T115