Resto de humanidade

Aspiro a fumaça que me intoxica

E água que bebo vai me matar à longo prazo.

A radiação já discalcificou meus ossos

E a minha pele se transformou em carapaça.

Silêncio há tempos não sei o que é.

E os horrores que meus olhos suportam

Dilaceram minhas retinas já dilatadas.

E se ainda me alimento...

Pode acreditar... É um mero acaso.

Pois esse alimento modificado

Me modifica de ser humano

A um sub-nível desumano de ser.

E aquele vento que poderia vir

Num final de tarde para nos aliviar

O calor fétido de aterros sanitários.

Nos torra feito sapo no asfalto!

Meu banho há tempos foi confiscado

Por falta da taxa alta que deixei de pagar.

Minha razão que andava confinada

Foi obrigada a pedir um hábeas corpus

Para poder ter sua morte em liberdade.

E você que nem cisma ainda em nascer

Quando aqui estiver, quando aqui chegar

Seja grato pelo resto que te resta

Desta humanidade sombria como um final de guerra!