Entre_linhas
nas ranhuras do seu corpo
me vejo acanhado
e às vezes muito louco.
galopo por entre as dobras,
cada qual mais perigosa
cada qual mais instigante.
são passadas convergentes
de um trote cadenciado e vibrante,
deste cavaleiro ousado e errante.
vou pelas mil vertentes – alagadas,
em deslizes divinais e carentes,
onde ouço os seus aís, ais, ais.
são ruídos carnais - labiais,
vindos dos doces matagais
e de outros e outros, quase iguais.
não pretendo ouvir qualquer palavra
e pra que ouvir? se o que quero é me violentar
como se eu fosse uma vil vagabunda.
eu me toco, eu me mordo,
eu me procuro no seu dorso
como se fosse um intruso.
vou a nascente,
planto a semente.
meu Deus! sou mesmo um doente.
mas e daí?
sou assim mesmo
sou teso, sou bicho do mato.
sou menino, sou querido,
às vezes sou marido
às vezes sou o prostituído.
ah! deslizo quase bêbado,
cambaleante entre os seus lábios
sem receio ou medo. vôo em pleno gozo.