OS TRÊS ILUSÓRIOS DIAS
Nas montanhas nunca escaladas
a lua, generosa, derrama sua prata,
atrás de paredes, de ruas muradas,
pessoas extravasam cantando,
dançando, como folhas de papel ao vento,
rendendo homenagem a um tirano rei,
impiedosamente gordo,
alimentado pelas frustrações de tantos;
os seus desejos retidos por um ano,
de felicidade, escondida, sabe-se lá,
no céu ou no inferno da vida que lhes nega
o direito de momentos alimentícios.
Faz delas peregrinos de infectos lixões
à cata de sujos bocados de pão
para saciar o monstro roedor,
vivente em todos os estômagos.
E nestes três ilusórios dias
vestem-se com variadas fantasias
para serem no negro asfalto
o que desejam ser realmente.
Nasce o sol e termina a festa.
despem seus mantos reis e rainhas,
migram do palácio para a favela
onde são súditos da miséria...